Laboro Blog

1 de jun. de 2005

Balanços sociais podem aumentar riscos das empresas

De São Paulo, Jornal Valor Online - 31/05/2005, por Felipe Frisch

 

As empresas que utilizam os relatórios de sustentabilidade e balanços sociais como meros instrumentos de promoção das suas marcas podem estar aumentando o risco para si e para seus acionistas. A avaliação é do ex-secretário do meio ambiente de São Paulo, o ambientalista Fábio Feldmann.

Segundo ele, este uso da responsabilidade social como instrumento de marketing "é incorreto". Se um cidadão detectar que o projeto divulgado não existe ou não produziu os efeitos descritos, pode obrigar a empresa a se retratar.

Uma dificuldade para a punição é o fato de os balanços sociais no Brasil não serem obrigatórios, e, portanto, também não serem alvo de fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Há apenas um projeto de lei - de nº 3.116, de 1997 - das então deputadas do PT, Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares e Sandra Starling -, que não avançou.

Já nos dados do balanço convencional, se o erro não for intencional, a empresa só é obrigada a divulgar o balanço corrigido e arcar novamente com os custos de publicação. Se, após inquérito da CVM, for considerado proposital, pode haver suspensão do administrador ou multa.

Feldmann explica que o uso da sustentabilidade em prol somente da marca acaba se perpetuando porque são poucas pessoas, mesmo dentro das companhias, que lêem o material. "O desafio é fazer a população e as organizações não-governamentais lerem", diz.

Segundo ele, um outro vício das empresas brasileiras que publicam balanços sociais é divulgar apenas dados positivos. "Os relatórios sociais no Brasil falam que as empresas são todas ótimas", critica. "Essa não é a tendência lá de fora, onde as empresas divulgam suas metas de redução da emissão de carbono, ou do tratamento dos resíduos sólidos", compara.

O ex-secretário acredita, no entanto, que as empresas brasileiras estão "corrigindo o rumo" em direção à responsabilidade social, que aqui sempre foi muito confundida historicamente com assistencialismo. "Já vi relatório social que falava que a empresa tinha dado 18 peças de enxoval, mas será que isso é importante?"

O ambientalista esteve presente ontem ao seminário "Qual é o valor da sustentabilidade?", promovido pelo Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). Os impactos social e ambiental das empresas nas áreas em que atuam têm ganhado peso nas análises dos investidores com a expectativa de criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) pela Bovespa. Nos próximos dias, o questionário para análise das empresas deverá ser colocado em audiência pública na bolsa de valores.